segunda-feira, 19 de novembro de 2012

"Quero dançar com outro par pra variar, amor."


Passei mais de um ano na mesma canção. Repetidas vezes os mesmos acordes... a mesma melodia... o mesmo compasso... a mesma dança... o mesmo par... chegou um dia em que a música que alegrava, arrepiava, dava um puta tesão ouví-la passou a arrastar correntes, incomodar, as notas eram fora do tom... o violino arranhava, o arcordeon parecia comprimir os pulmões de tanta angústia... as pernas num desencontro fora do compasso... não se entrelaçavam com a elegância e sintonia necessárias, brigavam por espaço... olhos não se fitavam por medo de encarar a realidade... rostos sempre pra lados opostos sem vontade de seguirem na mesma direção... Gardel já enchia o coração de mágoa e os olhos de lágrimas... mesmo existindo a vontade de continuar a dança, o medo era maior... medo de errar o passo novamente, de voltar aos desencontros de tempos, da reação do outro.
Deixei de ouvir a música, passei a ignorar as canções velhas ou novas... nada interessava... nada.
O silêncio de nada adiantou. Notas surdas são as que mais incomodam...
Encontrei músicas novas, relembrei algumas antigas... procurei instrumentos novos... ritmos novos, alguns mais lentos outros ousados até demais para minha coluna...  vozes diferentes... dancei sozinha, acompanhada.. cantei no chuveiro, no carro, no trabalho, na mesa do bar... sorri, chorei... mas não ousei visitar aquela canção... não mesmo.
Se voltarei a dançar tango? Sim, em Dezembro, em Buenos Aires... pra ser feliz e não remoer tristeza.