sexta-feira, 29 de junho de 2012



Passei meus 29 anos não fazendo questão e fugindo de fazer planos com outra pessoa. E sempre achei muito estranho ver os amigos falando projetos a longo prazo com alguém. Quando era questionada pela ausência de alguém ao meu lado dizia que não fazia falta. E não fazia mesmo. Nunca precisei fingir sentir vazio por não ter "alguém pra eu fingir que eu não amo".
Sempre detestei casamentos - e sou filha de um um casal com um relacionamento sadio de quase 40 anos, então não posso dizer que é por frustração dos meus pais-, dizia que era dinheiro demais por 2 horas de cerimônia e 5 de festa, pra algo que ninguém sabia o tempo que iria durar. Os mais próximos falavam que era coisa de capricorniana pão dura e pessimista. Eu simplesmente ria e dizia que preferia comprar um videogame. Namorei pessoas bem legais, que os amigos sempre diziam “desta vez vê se sossega, Aline.”, mas nunca estavam na minha vida quando pensava no futuro  e quando aparecia a pergunta “como você se você daqui a 15 anos?” a minha resposta era a mesma: “Trabalhando no que gosto,tendo a MINHA casa, com MEU/MINHA cachorro(a) e a MINHA pick-up na garagem.” (Nossa, mas que materialistaaaaaaaaaa e egoístaaaaaaaaaaaa) e lógico quem estava comigo tinha a certeza de que o “nós” não fazia parte dos meus planos, porém nunca enganei ninguém, sempre fui muito clara com isso. Não havia espaço, na minha cabeça, pra outra pessoa, seria complicado demais lidar com isso. E no seu curso natural os namoros acabavam por desgaste, descaso ou pq eu já havia chutado a porta e mandado tudo pra puta que pariu depois de uma DR monólogo da outra pessoa e eu terminava com um "era só isso o que vc tem pra falar? Acabou?" ou então quando achava as cobranças tão absurdas soltava um VTNC (ogra), lógico que quem tinha o mínimo de amor próprio não ficaria comigo.  Bem, houve quem quisesse ficar mesmo assim, mas a minha pouca decência não permitia e eu simplesmente partia.
Numa manhã de junho, em Botafogo, ao meio dia conheci aquela  que desde o primeiro dia que vi me fez sentir vontade de gritar sem me preocupar com o mundo “PAREM AS MÁQUINAS! É ELA!” Em tantos outros encontros eu não me cansava (como era de costume) da companhia, da conversa, não sentia as horas passarem e num piscar de olhos meio dia virava meia noite e eu sem vontade alguma de voltar. Eu simplesmente queria ficar ali perdida nos olhos que mudavam de cor quando estávamos juntas e a cada encontro ficavam mais verdes. Assunto que não acabava mais, tantas coisas em comum: música, comida, filmes, séries, lugares, time de futebol, mesmo que ela não soubesse quando era impedimento e o porquê de escanteio ser cobrado com os pés e lateral com as mãos, e eu com uma paciência que eu nem sabia que tinha explicava e dava gargalhadas. Ah sim, a risada, A MELHOR EM 29 ANOS, e era só fechar os olhos pra ouvi-la no meio do dia. Passei horas ouvindo sobre história, caminhei de Ipanema ao Leme sem reclamar, passei a andar com garrafas de água com gás no carro, ouvi 8768575 vezes “O Copacabana Palace é o hotel mais bonito do mundo pra mim” com a mesma felicidade e interesse da primeira vez, em algumas fiz piada, mas sempre havia paixão em ouvir cada palavra. Passei a dar valor aos pequenos gestos. De uma forma mágica, podia ser eu , no que dizia e fazia, ela entendia e eu não me esforçava pra ser outra pessoa. Eu me tornei leve.Choramos juntas, ficamos em silêncio e tudo era compreendido. Torcíamos pelo sucesso da outra e comemorávamos como se fosse um só. Ajudamo-nos quando tudo parecia pesar demais. A cumplicidade era tamanha que pelo bom dia escrito em um torpedo sabíamos o humor da outra. Carinho, respeito, amizade, lealdade, amor e confiança tínhamos de sobra. E ainda temos, mesmo que separadas, mesmo o fim tendo ocorrido no meio de mágoas, arranhões e desencontros. E se terminou assim, foi porque as duas permitiram, as duas são responsáveis. Demorei pra entender isso sozinha e quis encontrar julgar culpada. Perguntas não feitas, atitudes não tomadas, foram pros dois lados. Azar o meu entender isso só depois de ganhar uma gastrite. Plock!
Se eu a amo? Amo por cada minuto, silêncio, riso, dor, erros, acertos que tivemos. Talvez eu a ame indefinidamente e siga desejando dançar tango todas as noites antes de dormir. Talvez na realização dos nossos melhores projetos daqui a 15 anos ela esteja ao meu lado, não sei em que "posto", mas que sejamos leves e inteiras uma pra outra porque, especialmente pra ser amigo é necessário entrega.

sábado, 2 de junho de 2012


Há meses penso neste poema... e faz todo sentido postá-lo no blog hoje...

"Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos."

(Ana Cristina César - em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos)