sábado, 17 de julho de 2010

E igual a esta, a Doutora, faz?



A falta de tempo por causa do trabalho e um pouco de preguiça tem me feito não vir aqui. Sim, confesso! Antes escrevia toda semana, muitas vezes, todos os dias. Hoje, peguei-me a pensar: será que estou sem assunto ou me abdicando de dar opinião sobre o que leio, ouço, vejo? Fato que não tenho estômago para Bruno, Eliza, Mizael e Mércia. É violência e perversidade demais. Não dá. Já me basta a enxurrada nos jornais, twitter e afins.

Esta semana, lembrei-me de um fato engraçado que aconteceu há mais ou menos 2 anos no meu consultório. Então resolvi escrever...
Último horário no meu consultório, não havia mais pacientes marcados, minha secretária e eu já com as bolsas arrumadas, jaleco no cabide, material estéril na autoclave secando, bancada e equipo limpos. Eis que a campainha toca. Minha secretária abre a porta e eu sentada à mesa na sala de espera observo a senhora e uma moça, que depois me foi apresentada como sua filha.
Apresentou-me. Convido-as a se sentarem. Pergunto qual o motivo da visita ao dentista, então a senhora começa:
- Sabe Doutora, vim encaminhada por uma vizinha minha que fez a dentadura dela com a senhora e gostei da dela e quero fazer também. - eu explico que não precisa me chamar de senhora, pelos meus 26 anos e que não fazia questão do Doutora. Ela continua:
-Pois bem, eu quero fazer "uma chapa"nova. A que estou usando está "gasta", velha, com cara de suja.
Fiz a ficha cadastral e a encaminhei para a sala de exames. Realmente havia a necessidade de trocar as próteses explico cada detalhe a ela, fotografo e mostro as áreas de desgastes, que há perda de dimensão vertical. Voltamos para o escritório e explico mais uma vez e complemento com valores e tudo o que todo dentista deveria dizer na primeira consulta. Eu costumo perguntar aos pacientes se eles tem fotos sorrindo para que o sorriso fique o mais próximo do que estão habituados. E a senhora fala:
- Ah sim! Fulana me falou que a senhora, quero dizer, que você pede - risos - mas eu trouxe esta foto aqui e queria que meus dentes ficassem iguais a estes.
neste momento a Senhora que tinha 59 anos saca da bolsa algo parecido com uma página de revista dobrada e me entrega, eu com cara de ponto de interrogação aceito e abro, para meu espanto Ana Paula Arósio me sorri com os dentes tão brancos e olhos tão verdes que fico até sem ação. Depois de respirar fundo e disfarçar a minha cara de torpor digo:
- Minha senhora, eu sou uma simples dentista, ainda não estou fazendo milagres.
Minha secretária quase se engasgou com o copo d'água e a filha da senhora disse:
- Eu falei, mamãe, que isso não existia!
Neste momento, sorrindo para a pobre senhora que encontrava-se com olhar desiludido, explique que cada pessoa tem sorriso próprio, que varia de acordo com tipo de rosto, cor de pele, formato dos dentes e que o que poderia ficar bem na Ana Paula, talvez ficasse estranho nela e que eu faria de tudo para que ela ficasse com um sorriso bonito, porém que combinasse com ela. Ela balançou a cabeça e disse que entendia e sorriu também.
Fizemos a moldagem no mesmo dia, as consultas se seguiram e enfim a senhora teve sua nova prótese com seu sorriso próprio. E ao se olhar no espelho falou:
- É Dra. Aline, não tô a Ana Paula Arósio, mas pelo menos as rugas foram embora! vão achar lá na rua que fiz plástica!
Eu já não dizia nada e só pensava na surreal primeira consulta. Até hoje, anexada na ficha desta paciente tenho a foto da Ana Paula Arósio, ficou como "souvenir" de início de carreira.
Odontologia muitas vezes é estressante, por prazos, pressão de paciente, atrasos de protético. Por outras, cheia de momentos divertidos e inusitados.
That's all folks!

2 comentários:

Dr. Fabrício disse...

heheheh ... bem pararecido ... melhoré que ela gostou :)

Anônimo disse...

kkkkkkkk...Adorei.

bjim
Marina